Por Aphonso Mehl Rocha (*)
Sou frequentemente perguntado sobre a aplicabilidade de modelos de gestão de risco de compliance para empresas startups. Refletindo sobre o tema, primeiramente precisamos partir da definição do que seria uma startup. Entendo que startups são estruturas empresariais simplificadas, modelos de negócio repetíveis e escaláveis, com esforço reduzido para replicação de produtos e processos de suporte, que pela própria dinâmica de negócios espera-se ainda que sejam estruturas flexíveis e adaptáveis para operar com níveis mais elevados de incerteza e mudança. Essa acaba sendo a chave para entendermos onde se encaixariam aqui modelos de gestão de risco de compliance.
Temos testemunhado a utilização do termo compliance para uma miríade de finalidades relacionadas à gestão de risco em empresas. Mas, por vezes, o termo também é usado até como ponto de programa de governo, com frequentes referências ao conceito feitas a cada vez que um novo caso de corrupção é publicado. Entretanto, precisamos entender o que esperar como resultado da implementação de um programa de compliance para que não adotemos como solução para um sem-número de mazelas ou mesmo ineficiências empresariais.
A gestão de riscos é um conjunto de processos envolvendo o desenho, implementação, monitoração e contínua revisão da exposição de riscos. Na execução destas atividades, faz-se necessário que a empresa defina formalmente seu apetite de risco, ou seja, quanto de risco a empresa está disposta a correr na sua operação, de modo a atingir seus objetivos com competitividade e em conformidade com a legislação vigente.
Assim, a elaboração de um programa de compliance deve levar em conta a cultura da empresa, ambiente operacional, apetite de risco e comunicação com todos os stakeholders, sendo que não existe uma solução padronizada que satisfaça a todos os perfis de empresa. Não existiria, portanto, uma solução de compliance específica para startups.
Mas, se um trabalho criterioso de levantamento de dados e desenho de controles for executado, necessariamente passará pela customização de processos de controle proporcionalmente aos riscos identificados, levando-se em conta potenciais impactos e probabilidade de ocorrência de falhas em linha com atividades e planejamento estratégico da empresa.
Não surpreendentemente, a implementação de uma gestão de riscos robusta proporcionará a transparência necessária e previsibilidade de resultados de uma empresa startup para todos os interessados, incluindo clientes, fornecedores e funcionários, como também investidores, o que pode ser um fator chave para a atração de capital e sucesso da iniciativa.
(*) Aphonso Mehl Rocha é consultor nas áreas de compliance, governança, auditoria e gestão de riscos.
Fonte: Folha de Londrina, em 05.02.2019.