Por Alexandre Aristeu Maciel (*)
O setor financeiro pode ser considerado um dos mais dinâmicos e intensos, por assim dizer, seja qual for o momento em que a economia do país se encontra. É por isso que as instituições que operam esse mercado estão entre as mais aparelhadas para atender às incontáveis transações, como fontes pagadoras, adquirentes, bandeiras, bolsas de valores, corretoras e fintechs. Do ponto de vista dos profissionais que planejam a automação das operações e dos gestores, é evidente que a segurança dos dados e a privacidade das informações dos clientes são preocupações constantes.
A responsabilidade pela segurança dos dados ganhou muito mais relevância porque, além da movimentação para atender às normas da nova Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que acaba de entrar em vigor, as empresas envolvidas nesse ecossistema organizam suas plataformas para o compartilhamento com parceiros de aplicações e produtos proporcionado pelo Open Banking. Os bancos se adaptam também ao serviço ininterrupto do novo sistema brasileiro de pagamentos instantâneos diretos, o PIX. Com regulamento aprovado pelo Banco Central, PIX começa a funcionar em 16 de novembro.
As novas facilidades oferecidas vão atrair um número considerável de pessoas que ainda não usam serviços digitais das suas contas bancárias e agregar outro público, dito "desbancarizado". Mais uma vez, reforçamos a tendência de que aumentará consideravelmente o volume e o tráfego de informações a serem processadas. Para dar ideia deste volume, o levantamento anual feito pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban) - Tecnologia Bancária 2020 - mostra que em 2019 as transações bancárias cresceram 11%, registrando 89,9 bilhões de operações. 44% do total - 39,4 bilhões - correspondem a operações realizadas por meio do mobile banking.
Estarão disponíveis novos serviços que "conversarão" entre si por meio de máquinas em ambiente de nuvem para que os pagamentos ocorram em tempo real. As transações deixarão de depender exclusivamente dos bancos e serão alternativas por meio de aplicativos oferecidos por fintechs. Produtos dos bancos poderão ser consumidos por plataformas de outras instituições em formatos diferentes do original. E o bom funcionamento de todas as operações dependerá da comunicação máquina a máquina, de APIs. Portanto, é preciso dominar tecnologias que fazem o controle, a gestão e a segurança das APIs e o entorno do ambiente.
Novas estruturas têm de ser criadas para suportar essa plataforma e o modelo seguro de cloud é o mais escolhido para a conectividade entre as instituições. Fica evidente que operar serviços e aplicações baseados na nuvem não é mais um ponto de dúvida para as instituições financeiras. De acordo com artigo publicado no Brasil pela McKinsey - Melhorando a produtividade em um panorama de disrupção: como transformar o setor bancário latino-americano - "a nuvem pode desempenhar um papel na viabilização de serviços de infraestrutura escalonáveis sob demanda". Diante da necessidade de redução de custos e eliminar investimento pesado em estruturas próprias, recorrer a consultorias que terceirizam serviços no modelo XaaS (Everything as a Service) já não produz dúvidas aos gestores.
A nuvem é ainda a alternativa para que as instituições financeiras enfrentem um outro desafio - migrar parte dos colaboradores para o trabalho remoto no distanciamento social. É um processo que estava nos planos dos bancos em um prazo elástico de dois a quatro anos, mas a pandemia o acelerou para um mês. Desta forma, os serviços no modelo Software as a Service (SaaS) e infraestrutura para a nuvem, são necessários para suportar ferramentas de colaboração ou teleconferência com a mesma maturidade que já são usados em governança e gestão de riscos.
Se no trabalho remoto a segurança volta a causar preocupação, a escolha é conectar funcionários em uma solução de nuvem que o leva à rede de sua empresa. Esse tipo de demanda gerou um novo conceito avançado que é o SASE. Trata-se de uma arquitetura de segurança descrito pela consultoria Gartner como Security Access Service Edge. É uma forma de fazer a conversão das estruturas corporativas para cloud com muito mais garantias, pois combina uma série de recursos que envolvem WAN, firewalls, gateways seguros e acesso à rede.
Não é ao acaso que o sistema financeiro exige soluções de ponta ou conceitos novos ainda não estabelecidos no mercado, o que obriga as instituições a buscarem desenvolvedores para ferramentas próprias mesmo antes de serem lançadas por empresas de software. Porém, mesmo estando parcialmente preparadas para o que vem pela frente, ainda se faz necessária uma estrutura corporativa totalmente integrada com novas soluções baseadas em SaaS. Há, portanto, um grande trabalho a ser feito para implantação de infraestrutura e software como serviço, e cloud, para atender ao grande consumo de soluções pelas organizações.
(*) Alexandre Aristeu Maciel é coordenador de Arquitetura e Engenharia de TI na Agility.