Plano de negócios do Banco está completamente ligado a metas de ESG, segundo Bianca Nasser, do BNDES
São raras as empresas que resistem ao tema, disse Nadine Cavusoglu, diretora-geral do Emerging Markets Investors Alliance
Covid-19 mostrou que não somos capazes de responder bem a choques, avaliou a vice-presidente da CBI, Justine Leigh-Bell
As finanças verdes e os investimentos com foco em sustentabilidade socioambiental e governança corporativa (ESG, das palavras inglesas environment, social e governance) abrem um leque de oportunidades para o Brasil. A avaliação foi feita pelos participantes dos dois painéis apresentados nesta terça-feira, no segundo dia de webinars da Semana BNDES Verde.
A diretora de Finanças do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Bianca Nasser, que coordenou o painel “Funding através de Mecanismos Financeiros ESG”, ressaltou que mais de 50% do portfólio de crédito da instituição já é dedicado a ativos verdes e sociais. “Esperamos ampliar essa participação ainda mais”, disse. “Nosso atual plano de negócios está completamente ligado a metas de ESG”.
Para o CEO da Blue Orange Capital, Bertrand Badré, o BNDES desempenha um papel central nessa tendência. “Há um espectro enorme de oportunidades no Brasil em água, energia e, claro, na Amazônia”, observou.
Badré lembrou que, há 50 anos, o economista Milton Friedman via a maximização do lucro como o propósito social das empresas. “Mudamos dessa visão em que o lucro é um fim em si mesmo para um sistema em que você lucra porque encontra soluções para o planeta”, ponderou. “Isso passa por mudanças operacionais e pela educação do mercado: o que o consumidor, o investidor e o trabalhador esperam? Estamos prontos para mudar de verdade ou não nos importamos?”
Mudança de foco – A diretora-geral da Emerging Markets Investors Alliance, Nadine Cavusoglu, destacou que a instituição tem como missão, primeiramente, educar investidores e, depois, tê-los como a voz de mudança e engajamento das empresas para impulsionar práticas mais sustentáveis. Segundo ela, são raras as empresas que resistem à incorporação de princípios ESG em todos os aspectos.
“Para nós, o primeiro passo é chegar à empresa e iniciar o diálogo”, contou ela. Um passo muito importante é entender por que a empresa está resistindo à mudança, porque sem entender isso não podemos vir com um plano de engajamento, disse.
O chefe de Renda Variável do BTG Pactual para a América Latina, Will Landers, destacou a liderança brasileira em governança, desde o lançamento do Novo Mercado no início dos anos 2000. Mas ressalvou que estamos aprendendo, “como todo mundo”, a usar ESG como ferramenta para a investimento. “Ainda não temos um padrão para julgar se as empresas são boas ou más em aspectos de ESG”, afirmou.
De acordo com Landers, o investimento global em exchange traded funds (ETFs) relacionados a princípios ESG chega a US$ 100 bilhões. Os investimentos sustentáveis representam quase um terço do investimento global, completou.
Agenda ambiental – Conforme ressaltou o superintendente da Área de Gestão Pública e Socioambiental do BNDES, Júlio Leite, mediador do painel sobre Finanças Verdes, o Banco é uma das instituições que mais têm contribuído para a agenda ambiental brasileira nos últimos 30 anos. “A sustentabilidade está no planejamento estratégico, é transversal a todas áreas temáticas da instituição e perpassa todas as suas atividades operacionais”, frisou.
O BNDES foi o primeiro banco a ter uma unidade dedicada a temas socioambientais e o primeiro a ter uma política de responsabilidade socioambiental, antes de o Banco Central exigir isso das instituições financeiras. Foi também o primeiro a emitir um “green bond”, em 2017, no valor de US$ 1 bilhão, lastreado em projetos de energia renovável – solar e eólica. O banco de fomento é gestor do Fundo Amazônia e gere também o Fundo Clima, com recursos de royalties do petróleo do Ministério do Meio Ambiente, para apoio reembolsável a projetos que reduzem a emissão de gases do efeito estufa.
Segundo o superintendente, o mercado de finanças verdes cresce ano após ano. “Já é um mercado de quase US$ 1 trilhão de emissões nos últimos 10 anos e serve para mobilizar investimentos para transição a uma economia de baixo carbono”, disse.
Oportunidades para o Brasil – O coordenador de Economia Verde do Ministério da Economia, Gustavo Fontenele, vê grandes oportunidades para o país. “Temos que utilizar as finanças verdes como mola-mestra para apropriar essa potência ambiental, esses atributos de sustentabilidade, e convertê-los em vantagens competitivas”, propôs.
Para Fontenele, nossa capacidade pública de financiamento está cada vez mais limitada, o que abre boa perspectiva para atores do mercado. “Enxergamos nas finanças verdes um grande instrumento para viabilizar projetos, para promover desenvolvimento, equidade e prosperidade da nossa sociedade e para elevar nossos padrões de competitividade”, avaliou.
O coordenador do Laboratório de Inovação Financeira da Comissão de Valores Mobiliários (LAB-CVM), José Alexandre Vasco, comparou as visões dos mercados de capitais dos países desenvolvidos e dos emergentes sobre finanças sustentáveis. “Os mercados desenvolvidos veem como uma questão especialmente de clima: como o sistema financeiro pode e deve ajudar e contribuir para enfrentar os desafios de mudanças climáticas. Para nós, é uma questão de oportunidade de desenvolvimento de mercado: esses grandes investimentos vão se traduzir em mais infraestrutura”, afirmou.
Segundo Vasco, há uma estimativa de US$ 2,5 trilhões por ano, até 2030, que os países emergentes precisariam investir em infraestrutura para atingir os objetivos de desenvolvimento sustentável. No caso do Brasil, essa necessidade é de US$ 1,3 trilhão. “Temos necessidades em transporte e saneamento: cerca de 30 milhões de brasileiros não têm acesso à água tratada”, lembrou.
A vice-presidente da Climate Bonds Iniciative (CBI), Justine Leigh-Bell, afirmou que a iniciativa brasileira em finanças verdes, liderada por investidores, engaja uma sequência potencial de investimentos em infraestrutura, incluindo energia, e agricultura no Brasil. “O apetite por sustentabilidade socioambiental se torna crescentemente mais importante para os investidores – mais ainda em tempos de pandemia, porque a covid-19 ensinou ao mundo que não somos capazes de responder bem a choques”, observou Justine. “Nós nos encontramos em grande desvantagem: se não podemos resolver uma pandemia, como podemos resolver uma mudança climática?”
PROGRAMAÇÃO DA SEMANA BNDES VERDE NESTA QUARTA-FEIRA, 21
11h às 12h: Desenvolvimento Sustentável da Amazônia
Moderador: Gustavo Montezano, presidente do BNDES
Participantes: Hamilton Mourão, vice-presidente da República, e Damares Alves, ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos
17h às 18h: Amazônia e Bioeconomia
Moderador: Nabil Kadri, chefe do Departamento de Meio Ambiente e Gestão do Fundo Amazônia do BNDES
Participantes: Andrea Mota, diretora da Coca-Cola, Eduardo Taveira, secretário do Meio Ambiente do Amazonas, e Mariano Cenamo, diretor do Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam)
SERVIÇO
Webinar Semana BNDES Verde, no canal do BNDES no Youtube
Data: 19 a 23 de outubro
Horários:
21 (quarta-feira) a 23 (sexta-feira), de 11h às 12h e de 17h às 18h
Endereço: www.youtube.com/bndes
Fonte: BNDES, em 21.10.2020