Por Eduardo Masulo (*)
O trabalho de camelô surge como uma alternativa de emprego ou uma saída para o desemprego, tendo como principal motor propulsor as dificuldades de inserção no mercado formal, cujo movimento pendular conduz ora ao trabalho formal, ora ao trabalho informal. Por outro lado, o crime organizado encontrou oportunidades com esse cenário.
A taxa de desemprego atingiu a marca recorde de 14,3 milhões brasileiros no primeiro trimestre de 2021, segundo o IBGE. Por falta de oferta de empregos formais, a população busca na informalidade uma maneira digna de levar o sustento de cada dia. Inúmeros são os produtos expostos nas famosas banquinhas de camelôs ou “empresas de ruas”, que estão espalhadas em todos os grandes centros do País e que não param de crescer. Mas o que pode estar por trás de produtos sendo comercializados por centena de milhares de trabalhadores informais?
Diante deste cenário, temos pessoas que buscam exclusivamente o sustento para a sua família, mas que não os deixam isentos de assédios e cobranças dos “supostos donos” dos espaços públicos. Além disso, há interesses de quem deveria ter o controle sobre a situação, assim como oportunidades ocultas de ações criminosas.
Em países desenvolvidos com economia sólida, esse movimento seria um gatilho para uma forte pressão popular contra o governo por geração de empregos. E por que não há essa pressão por aqui? Simples, pelo fato de a informalidade ser uma válvula de escape, a qual pode-se tudo e fiscaliza-se nada.
Contudo, a omissão em não fiscalizar reflete em perdas de arrecadação para os cofres dos estados, que, por sua vez, escalona as próprias prioridades de investimentos e por aí vai. O interesse político tem a real consciência que é mais fácil deixar como está, o povo levando a vida da maneira que for, desde que não incomode ou pressione os nossos representantes no Governo e, em contrapartida, as fiscalizações somente ocorrem para ganhar palco em reportagens na televisão, configurando um grande teatro.
Em constante estado de atenção aos cenários, quem também vislumbrou oportunidades foi o crime organizado, que explora a falta de fiscalização, tornando os camelôs pontos de escoamento de cargas roubadas e contrabandos, entre outras atividades ilegais. E como sabemos se estamos comprando produtos lícitos ou ilícitos? Essa resposta não é algo simples de identificar, mas uma boa dica é: se o produto tem um preço incompatível com o real, desconfie. Possivelmente é um produto de origem ilícita e, ao fechar a compra, estamos alimentando e fortalecendo o crime organizado.
Não podemos fechar os olhos e achar que não temos a nada a ver com isso. O momento indica a ineficiência governamental por meio da proliferação da informalidade, que na ausência de empregos, permite o crescimento dessa modalidade sem analisar os malefícios futuros.
(*) Eduardo Masulo é consultor sênior na ICTS Security, empresa de origem israelense que atua com consultoria e gerenciamento de operações em segurança.
Fonte: IMAGE, em 07.05.2021