Por Bruno Giometti (*)
Ao longo dos últimos dois anos, o mundo travou uma batalha árdua contra um vírus que fez o mundo parar. As pessoas se enclausuraram e as empresas estressaram ao máximo o conceito de resiliência, que virou plasticidade em um mundo cada vez mais complexo. Depois de tanto tempo neste isolamento e com todos esperando a liberdade plena, começa uma guerra entre uma potência militar e um país que buscava se unir às nações mais poderosas do mundo. De repente, falou-se de uma 3ª Guerra Mundial!
Entre idas e vindas nas negociações e sanções, muitas empresas começaram a tomar ações que até pouco tempo não eram discutidas, como a saída de uma corporação global do mercado Russo, a 11ª economia do mundo com um PIB (Produto Interno Bruto) de 1,48 trilhões de dólares, de acordo com os dados do The World Bank.
Empresas como a Coca-Cola, General Electric, Starbucks, Pokerstars, McDonald´s, Airbnb, Visa e Mastercard anunciaram ao longo dos últimos dias a suspensão das operações na Rússia, assumindo riscos e prejuízos certamente não previstos em orçamento.
O McDonald´s, com 850 lojas na Rússia e 62 mil colaboradores, renunciará a 9% dos negócios do grupo no mundo e de 3% do lucro operacional. Em um mundo tão competitivo e que estava ansioso para virar a página da pandemia, abrir mão de USD1,89 bilhões de receita é uma decisão corajosa e dolorida.
Mas diante deste contexto, como ficam os comitês de auditoria interna? E os riscos organizacionais? E a continuidade de negócio? Aos comitês de auditoria cabe a atenção redobrada aos impactos nos negócios, como vemos a seguir:
1 - Sanções – o comitê de auditoria recebe a missão de olhar com muito mais atenção quais medidas a companhia está tomando para assegurar o cumprimento das sanções estabelecidas, não apenas pelo seu país de origem, como também dos seus parceiros comerciais, clientes e fornecedores. Imagine que os EUA proíbam a compra de óleo e gás oriundos da Rússia. Posto isso, será exigido que as empresas europeias busquem outros canais de fornecimento para manter as relações com os EUA.
2 - Escassez – diante de um cenário de guerra, os países podem optar por preservar as suas mercadorias e matérias primas, vislumbrando a proteção da sua nação. Cabe ao comitê de auditoria olhar a cadeia de suprimentos, outros mercados e fornecedores a fim de avaliar como a empresa faz para diluir os riscos e assegurar a capacidade produtiva.
3 - Inflação e Câmbio – riscos ligados à inflação e à variação cambial deveriam estar sempre nas pautas do comitê de auditoria, mas, em tempos de guerra, as pressões inflacionárias aumentam e o câmbio fica ainda mais volátil, fazendo com que avaliações de riscos sejam demandas pela área para assegurar que a exposição da companhia não seja maior do que o aceitável.
Os comitês de auditoria interna, como órgãos de assessoramento ao conselho de administração, têm um papel vital nas empresas e organizações em tempos de guerra, já que um olhar redobrado e minucioso sobre os riscos pode ser a diferença para as organizações finalmente chegarem à liberdade plena do pós-pandemia.
(*) Bruno Giometti é diretor e líder da prática de Auditoria Interna e Assessoria Financeira da ICTS Protiviti, empresa especializada em soluções para gestão de riscos, compliance, ESG, auditoria interna, investigação, proteção e privacidade de dados.