Por Sérgio Rocha (*)
A Associação Brasileira de Importadores e Distribuidores de Produtos para Saúde – ABRAIDI encerra mais um ano com o sentimento de dever cumprido. A entidade tem um longo histórico de lutas por negócios mais sustentáveis e transparentes, quando a temática sequer estava em pauta como nos dias de hoje. Um modismo, que diferente de tantos outros, pegou e esperamos que para sempre.
Juntamente com a Advanced Medical Technology Association – Advamed, entidade com sede em Washington, nos Estados Unidos, e que, assim como nós, tem uma série de iniciativas para promoção da ética na saúde em todo o continente, realizamos o 1° Workshop Compliance para Distribuidores. Foi um evento que reuniu mais de uma centena de executivos e teve inscrições esgotadas.
Os profissionais participaram de treinamentos e capacitação com apresentações do cenário atual do Compliance no Brasil, da Lei Anticorrupção e da importância sobre o assunto para o crescimento e desenvolvimento de negócios. O workshop ainda tratou de códigos de ética e promoção de Compliance para distribuidores, além de estudos analisados de casos concretos e debates sobre a relação dos distribuidores e fabricantes com profissionais de saúde e órgãos públicos.
Foi uma atividade com “casa cheia” e isso nos orgulha demais, por saber que a mensagem do compliance está sendo disseminada dentro das empresas e em toda a sociedade. Para encerrar o evento, convidamos o Procurador da República, Deltan Dallagnol, que proferiu a palestra “A Ética e a luta contra a corrupção”. Dallagnol trouxe, acima de tudo, experiências de vida que revelaram a importância de seguirmos os nossos princípios, mesmo quando a maioria não faz o mesmo.
Dallagnol afirmou que o que o motiva não é colocar gente na cadeia, mas lutar para diminuir a aflição dos mais carentes em filas de hospitais e a busca por justiça social. Ele disse que não se ilude e que, ao aceitar o desafio para comandar a Lava-Jato, sabia que não resolveria a corrupção no Brasil, mas destacou que isso não o exime da responsabilidade e do dever cívico de fazer a parte dele. Quantos de nós não nos deparamos com o mesmo dilema ético? A palestra do Procurador teve exatamente esse objetivo: provocar os presentes e revelar que eles não estavam sozinhos.
O Procurador também frisou que a equipe da Lava-Jato enfrenta pessoas poderosas que dominam máquinas de comunicação em seus estados e por isso adotaram uma política diferente e com enorme transparência, concedendo entrevistas coletivas para romper a impunidade, tendo apoio da sociedade. Novamente provocou os presentes a pensar. Quantas vezes nos sentimos fragilizados ao lutar com grandes corporações e instituições públicas contaminadas por corrupção?
É preciso romper com sistemas arcaicos e corruptos que não cabem mais no mundo de hoje. Já em 2006, a ABRAIDI foi uma das primeiras entidades do setor de saúde a lançar um Código de Ética e Conduta, agora em sua 3ª edição. Em 2015, em parceria com o Instituto Ethos, criamos o Ética Saúde – Acordo Setorial dos Importadores, Distribuidores e Fabricantes de Dispositivos Médicos, mecanismo de autorregulação de conduta dos signatários, que se tornou um Instituto independente. Em 2018, organizamos o I Fórum Brasileiro de Importadores e Distribuidores de Produtos para a Saúde onde, por meio de um robusto estudo, denunciamos as distorções do setor de saúde, com retenções de faturamento, glosas previamente autorizadas e inadimplência que traziam prejuízos calculados em R$ 1,3 bilhão.
Para dialogarmos com franqueza com “os grandes”, assim como tem feito o Procurador Dallagnol, buscamos respaldo internacional. A Advamed e as entidades coirmãs têm nos apoiado nessas iniciativas. O nosso único objetivo é dar sustentação ao associado que atua na ponta para que ele também tenha força para trabalhar de forma ética e buscar negócios que deem orgulho e não vergonha.
(*) Sérgio Rocha é presidente da ABRAIDI.
Fonte: SaúdeBusiness, 14.01.2019.