Todos os dias estas três letras estão mais presentes nas mídias e nas discussões corporativas. Elas estão presentes também, nas discussões estratégicas das empresas, principalmente aquelas no rol das corporações progressistas.
Uma das consequências da pandemia é que as fragilidades e vulnerabilidades corporativas ficaram mais expostas, mais latentes, requerendo das organizações uma revisão de sua dinâmica de negócios e um realinhamento de seu posicionamento no mercado.
Precisamos entender que o mercado tem visto o ESG como um risco de investimento e a não adesão e aplicação de ações baseadas neste conceito tem correlação com possíveis perdas financeiras.
Para ilustrar, vamos imaginar, por exemplo, quais impactos podem trazer para a organização quanto da materialização de um ato de corrupção em suas relações com terceiros, ou então, a ocorrência de um evento que impacte negativamente o meio ambiente, ou o tratamento discriminatório junto a um stakeholder. Qualquer um destes eventos pode trazer perdas de reputação e consequentemente perdas financeiras.
Este é um dos motivos para que a empresa esteja atenta para que sua operação e seus negócios não contribuam para o aumento da desigualdade social, ou destruição dos recursos naturais, da biodiversidade e assim por diante, impactando negativamente sua imagem e reputação.
A sociedade está mais madura em relação a estes temas, e mais exigente em relação aos produtos e serviços que consome, não somente em relação a qualidade, mas em relação de sua origem e qual o impacto que o consumo deste produto ou serviço traz para a qualidade do meio ambiente e/ou para a qualidade de vida da sociedade.
Este é um movimento mundial, que começou a criar corpo por meio de uma publicação do Banco Mundial em 2004 denominada “Who Cares Wins”, traduzindo: “Ganha Quem se Importa”.
Esta publicação teve a parceria do Pacto Global das Organização das Nações Unidas, de forma que considerar os 10 Princípios universais do Pacto Global como paradigma para implementação do ESG na corporação, pode ser um ponto de partida interessante.
Já existem fundos considerados ESG os quais investem somente em empresas e negócios com premissas socioambientais. Existem pesquisas que demonstram a intenção de investidores não investirem em produtos e/ou serviços que não estejam alinhados com o ESG, de forma que a empresa que não estiver alinhada, além de ter seu valor duramente impactado, aumenta o seu risco de continuidade.
Existem algumas empresas que já fornecem os “ratings” de ESG, mas ainda não existe um padrão e nem um entendimento único, gerando confusão e dificuldade de comparação. Não é um processo simples, mas está em amadurecimento, e acredito que chegar em uma padronização será uma questão de tempo.
Nesta esteira, já existem organismos solicitando que as grandes empresas, voluntariamente, publiquem, em seus relatórios, suas ações e impactos em ESG, e possivelmente os órgãos reguladores deverão, em pouco, tempo, incluir como requisito de transparência.
A meu ver, independentemente de ser uma exigência legal, as empresas que quiserem estar na vanguarda, deverão incluir em seu portfólio, ações efetivas relacionadas com o ESG, e de forma bem transparente, levar ao público, sua preocupação com a proteção do ambiente e do social, com uma base sólida de governança.
Espero que tenha sensibilizado vocês sobre a importância que este tema deve ter nas discussões estratégicas de sua organização. Agora vamos entender um pouco mais sobre o que está por trás de cada uma das letras desta sigla, de forma a contribuir para o direcionamento das ações necessárias para a condução deste programa:
Environmental (Ambiental)
As decisões de gestão devem sempre levar em conta a sustentabilidade, optando por ações que de alguma forma contribua com a redução de emissão de gases, uma melhor gestão de resíduos, maior proteção da biodiversidade, utilização, em sua operação, de produtos e materiais reciclados, sustentáveis ou biodegradáveis, incluindo a utilização e gestão racional da água e energia. O ponto aqui não é somente de ações não poluentes ou degradantes, mas também ações que recuperem a biodiversidade e melhorem a qualidade ambiental.
Social
É o compromisso com a inclusão e diversidade em seus quadros de colaboradores, terceirizados e prestadores. Tem especial atenção com a saúde e bem-estar de seus colaboradores, proporcionando melhor qualidade de vida para ele e seus familiares. Considerar que suas ações podem e irão impactar a comunidade onde está inserida, podendo, muitas vezes, estender para toda a sociedade, de forma que devem ser muito bem planejadas e alinhadas com este quesito social. O respeito ao consumidor, e se for o caso, a proteção e bem-estar dos animais que fazem parte de seu ecossistema.
Governance (Governança)
Este item está muito relacionado com um dos pilares da governança corporativa que é a responsabilidade corporativa e social. Ele abrange o equilíbrio das decisões de liderança, processos de sucessão, equilíbrio entre lucro e criação de valor a todas as partes relacionadas de forma sustentável. Comprometimento e promoção de ambiente pautado por valores éticos, morais, a aplicação das melhores práticas de gestão para a identificação, avaliação e tratamento dos riscos, inclusive os de “Compliance”, além do apoio para a existência de um efetivo sistema de controles internos.
A aplicação de todos estes conceitos deve seguir a mesma estrutura utilizada para qualquer outra boa prática a qual tenha impacto na cultura da organização. É preciso um processo contínuo de sensibilização de toda a organização, terceirizados, prestadores e fornecedores em relação aos atributos ESG.
O comprometimento inequívoco da estrutura de governança (conselho, comitês estatutários e gestão executiva) com os padrões exigidos pelo ESG é condição precípua para a efetividade do programa, que não pode ficar somente no discurso, ou nos relatórios, mas estar integrado nas ações da corporação.
Transparência, estrutura formais (políticas, procedimentos, gestão de riscos e comunicação) e processo de monitoramento contínuo e independente, são atributos que devem estar presentes para a efetividade do programa ESG.
O amadurecimento de todo este processo é parte da vivência, da execução, do monitoramento e do aprendizado obtido, gerando ações de melhorias.
Neste sentido as três linhas de gestão devem estar e tem responsabilidades claras sobre isto:
- Gestão (1ª Linha) – Modelagem, implementação, gestão, controle, monitoramento e ações de melhoria.
- Especialistas (2ª Linha) – Apoio na criação, modelagem implementação, avaliação dos riscos e vulnerabilidades, ajuda na definição dos tratamentos aos fatores de riscos, e no processo de monitoramento.
- Auditoria Interna (3ª Linha) – Avaliação independente se os riscos relacionados com ESG foram adequadamente identificados, avaliados e tratados; se as ações de mitigação e contingência existem e são eficazes, e se o ambiente de governança está alinhado aos requisitos do ESG.
Deve haver um foco ampliando de toda operação e seus impactos nas atividades externas; o conhecimento da dinâmica dos ciclos de negócios, segmentados por processos operacionais e tarefas é imprescindível; entender as ameaças, exposição, vulnerabilidades são pontos essenciais para a condução de todo este processo.
Os especialistas em controles internos devem contribuir efetivamente na implementação dos atributos ESG em toda a organização, e os auditores interno, devem a partir de agora incluir a avaliação do ESG em seu escopo de trabalho, sem exceção.
Para finalizar gostaria de deixar uma pergunta para reflexão:
O que sua organização faz de especial para ela de forma a se tornar especial para a sociedade?
Não acredito que a organização tenha que se tornar casa de caridade, mas ela tem responsabilidades na gestão sustentável do capital. Não é possível mais colocar o lucro acima de tudo.
Seja Feliz!