A cada caso de ruptura corporativa que é veiculado na mídia, sempre existe o questionamento sobre a efetividade da estrutura de governança e de seus programas de compliance, incluindo o programa de integridade.
A questão principal recai sobre como é que a violação dos valores morais da corporação se materializa em uma empresa que demonstra ter presente em sua estrutura, os órgãos de governança, requisitados por lei e regulamentos.
Como é que em empresas que reportam contar com políticas de compliance e programas de integridade estruturados no estado da arte, algumas com certificados de instituições importantes, onde, em alguns casos, os colaboradores especialistas participam de eventos setoriais palestrando sobre a qualidade de seus programas de combate a corrupção, suborno e outras irregularidade, estas violações ocorrem?
Sem falar em como é que o gerenciamento de riscos e o sistema de controles internos, como também a auditoria interna e externa, se for o caso, não detectaram esta violação dos valores morais?
A resposta não é simples, pois, cada caso é um caso, e a causa raiz da violação, pode ter diversos componentes.
Entretanto, uma das causas que está presente em quase todos os casos, é a falta de comprometimento e atitude verdadeira, por parte da gestão, em relação a todos estes requisitos de governança, e a seus valores morais.
É como se tudo isto fosse mera “burocracia”, no sentido negativo da palavra, e que, toda esta estrutura e políticas, somente serve para mostrar ao mercado, à sociedade e aos órgãos reguladores, que a empresa está em "conformidade".
É importante salientar, que uma das causas, está centrada na condição de que as empresas e os profissionais especialistas, se concentram muito na forma, mas se esquecem da essência. Esquecem de que, de nada adianta ter programas e políticas de compliance e integridade, se não houver atitude, consciência e cultura para isto.
Por mais que vivamos em uma era digital, onde a automação faz cada vez mais, parte das organizações, é preciso compreender que as empresas ainda são movidas por pessoas, que não agem por algoritmos, mas sim pela sua emoção, credos, conhecimento, objetivos, visão de vida e logicamente, pela sua ética.
A ganância, o ganhar por ganhar, o egoísmo, também faz parte das atitudes das pessoas, e logicamente, as organizações precisam levar em conta todas estas atitudes em seu processo de governança.
A efetividade da governança, compliance e integridade depende de ter pessoas com a ética, verdadeiramente, alinhada com os valores morais da empresa.
A gestão de pessoas deve primar para que as pessoas que fazem parte de seus quadros apresentem os seguintes atributos:
Vontade
É referente a escolha individual de fazer o certo sempre. Se concentra na certeza, que entre as opções de ação e decisão existentes, no processo de alcançar os objetivos, a escolha sempre será aquela que melhor se adequar aos valores morais da corporação.
Responsabilidade
Está baseado na responsabilidade de sempre escolher e/o manter o que é certo. É reconhecer a responsabilidade que tem de continuamente promover, por meio do comportamento que as ações e decisões devem sempre estar alinhadas aos valores de integridade da empresa.
Comprometimento
É o engajamento e envolvimento individual em executar sempre o que é certo, independentemente dos obstáculos, e das forças contrárias envolvidas, sem exceção. O comprometimento é demostrado pela atitude e comportamento diário.
Prestação de Contas
O indivíduo deve sempre assumir de forma transparente as consequências de seus atos e/ou omissões em relação ao que é certo. Deve atuar com diligência e reportar tempestivamente qualquer ato de violação aos valores morais da corporação que vier ao seu conhecimento.
Em meu entender, as estruturas de governança, programas de compliance e integridade somente serão verdadeiras e efetivas, quando as corporações reconhecerem a importância da aplicação das boas práticas de gestão na condução de seus negócios, por pessoas verdadeiramente com vontade, responsabilidade, comprometidas e diligentes na execução de suas atividades dentro do que é certo.
Enquanto as empresas não primarem em ter pessoas com a ética alinhada aos valores morais corporativos, tudo que se fala em governança, compliance e integridade, continuarão a ser uma grande ficção.
Para finalizar, gosto sempre de lembrar, que no mundo caótico em que vivemos, a simplicidade dentro das atividades corporativas é uma vantagem competitiva, inclusive no tratamento de um tema complexo como este, entretanto lembre-se que simplicidade não é superficialidade!
Seja Feliz!
20.02.2023