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Jefferson Kiyohara

Jefferson Kiyohara é diretor de Compliance & Sustentabilidade na ICTS Protiviti, empresa especializada em soluções para gestão de riscos, compliance, ESG, auditoria interna,investigação e proteção e privacidade de dados. É também coordenador técnico de Compliance Sustentável e professor de Ética & Compliance na FIA Business School, palestrante internacional em Compliance e co-autor de livro, e CCEPI.

Formado em Administração pela FEA USP, tem extensão em Gestão de Projetos e MBA em Gestão Estratégica e Econômica de Negócios pela FGV-SP, além de MBA Executivo em Marketing pela ESPM-SP.Com mais de 20 anos de experiência no mercado, trabalhou em projetos de consultoria em diversas empresas no Brasil e no exterior, incluindo a América do Sul, Central, do Norte e no Oriente Médio.

O tempero brasileiro no compliance mundial

 

Interessante perceber que temos brasileiros gerenciando globalmente e regionalmente programas de compliance de grandes empresas, atuando fora do Brasil e com o devido reconhecimento.

Recentemente, tive a oportunidade de participar de um dos maiores eventos de ética & compliance do mundo, promovido anualmente pela SCCE (Society of Corporate Compliance & Ethics), nos EUA. É um ambiente incrível com milhares de profissionais de compliance de diversas geografias, de praticamente todas as indústrias e com os mais variados níveis de experiência. Havia, por exemplo, profissionais com menos de três anos de experiência em compliance e outros com mais de 20 anos.

Oficialmente, foi anunciada a participação de 25 brasileiros. Contudo, deveria ter adicionalmente pelo menos a mesma quantidade, que mora e trabalha nos EUA, mas que não apareceram nos indicadores oficiais no primeiro número em razão do critério utilizado. Interessante perceber que temos brasileiros gerenciando globalmente e regionalmente programas de compliance de grandes empresas, atuando fora do Brasil e com o devido reconhecimento.

Vale destacar também que a comitiva brasileira demonstra movimento crescente na busca pelo conhecimento e pela troca de experiências, itens fundamentais para que as práticas adotadas no Brasil estejam em linha com o que é considerado de excelência lá fora.

E temos o que compartilhar, considerando que vários brasileiros atuaram como palestrantes neste evento. Há interesse dos estrangeiros em conhecer os detalhes da Operação Lava Jato, dos impactos nas organizações sancionadas e entender como elas responderam, além de um contexto legal e de negócios no Brasil por exemplo. E é interessante perceber que as iniciativas que temos adotado no Brasil estão em conformidade com as melhores práticas globais, obviamente considerando as empresas do Brasil com programas de compliance maduros.

E neste aspecto, destaco o primeiro ponto de atenção: ainda temos empresas no Brasil que não possuem programas de compliance. E dado que a onda de ética e anticorrupção já é uma realidade, assim como a de privacidade, que é mais recente, em razão da LGPD – Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais, é um cenário que deve mudar rapidamente nos próximos anos.

Falando em privacidade, foi interessante perceber que os desafios e problemas que temos enfrentado hoje no Brasil para a implantação de um programa de privacidade e proteção de dados nas organizações não são diferentes do que tem acontecido nos EUA ou Reino Unido. É global o desafio do profissional de compliance em convencer os executivos da relevância da onda de privacidade, explicar a legislação aplicável, seu impacto nos negócios e sua necessidade de implantação.

Na questão de uso de serviços terceirizados, ferramentas e softwares também estamos na mesma página, como por exemplo, na utilização de serviços profissionais e independentes de canal de denúncia, uso de plataforma e provedores de conteúdo e-learning, ferramentas de auditoria e de gestão de documentos e afins.

Contudo, a área de compliance ainda sofre os reflexos de uma cultura digital em desenvolvimento, no que tange as soluções como RPA (Robotic Process Automation), analytics, inteligência artificial, dentre outras tecnologias disruptivas. Dado que muitas empresas sequer possuem tais iniciativas em suas linhas de negócio, há obstáculos adicionais a serem superados pelo compliance officer.

Tal cenário não deve ser fator de desmotivação. Pelo contrário, há oportunidades para o compliance mostrar dentro das organizações o valor da tecnologia e aplicar dentro de seus processos. O RPA e o workflow, por exemplo, podem ser úteis para criar dashboards de forma automatizada, obtendo informações dos diversos sistemas e ferramentas utilizados, tipicamente de provedores diferentes.

E o primeiro passo, como comentado no evento, é entender os conceitos e do que se trata cada solução. O profissional de compliance deve ter a iniciativa de se “alfabetizar” no mundo digital, assim como se preocupa em aprender inglês ou montar o conteúdo de um material de treinamento utilizando o Powerpoint.

Temos no Brasil bons profissionais de compliance e bons exemplos de programa. Como citou Daniel Fridman, ex-procurador do departamento de justiça dos EUA, o Brasil conseguiu em 4 anos fazer o que os EUA precisaram de cerca de 30 anos no que tange à implantação de políticas anticorrupção e de compliance. Tal prática deve ser ampliada e ser mais disseminada no país, uma vez que temos ilhas de excelência que estão alinhadas com o que o mundo tem feito. É o novo jeitinho brasileiro ao redor do mundo.