Por Thiago Sant Anna da Silva e Jefferson Kiyohara (*)
O aliciamento é uma prática criminosa que pode ocorrer em diversos contextos, como no ambiente de trabalho, nas redes sociais ou até mesmo na rua. E, nas organizações, existe uma crença de que o risco de aliciamento não é possível de ser tratado, o que inibe as ações preventivas e potencializa os seus efeitos danosos. Recentemente, testemunhamos um exemplo prático da gravidade do problema do aliciamento: a troca de etiquetas de malas no Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, que resultou na prisão indevida de duas brasileiras na Alemanha. Neste caso, os funcionários que atuavam no manuseio de bagagens foram aliciados por agentes externos para o tráfico internacional de drogas. Casos como esse mostram como o aliciamento pode ser uma ameaça grave à segurança de uma empresa e da sociedade, além de evidenciar a necessidade de medidas de prevenção e controle.
Para mitigar os riscos de aliciamentos, é fundamental que empresas e instituições implementem ações preventivas, como diligências, código de ética, canal de denúncias, monitoramento das atividades e ações de comunicação e treinamento que abordem questões como a identificação de possíveis aliciadores, formas de denúncia e medidas de segurança para evitar situações de risco. Por fim, mas não menos importante, também é necessário orientar como reagir em caso de abordagem com propostas ilícitas.
Esses treinamentos podem ser otimizados se, antes deles, a empresa realizar um mapeamento de colaboradores mais suscetíveis a práticas ilícitas. Para isso, as organizações podem utilizar ferramentas como questionários ou entrevistas especializadas para identificar fatores de risco, como uma alta flexibilidade moral. Faz diferença, por exemplo, saber se o profissional, mediante suborno ou ameaça, agiria contra as políticas da empresa ou cometeria um crime. Com base nessas informações, é possível desenvolver planos de ação específicos para cada caso e, com isso, incrementar a segurança e a efetividade do processo como um todo.
Vale reforçar que as empresas devem criar canais de comunicação seguros e acessíveis para que as vítimas ou as testemunhas possam fazer denúncias de forma anônima quando se sentirem ameaçadas, constrangidas ou percebam uma anormalidade. Essa medida pode ajudar a evitar que casos de aliciamento passem despercebidos e, consequentemente, aumentem os riscos de novas ocorrências.
Também é fundamental ter um processo estruturado para responder aos relatos de ameaça, bem como ter o apoio da empresa e das autoridades para instruir ao caminho certo. Um bom exemplo é o do funcionário da Tesla, que, em 2020, não aceitou a quantia de 1 milhão de dólares para instalar um arquivo malicioso. Pelo contrário, ele acionou a empresa, que pediu apoio ao FBI e culminou na prisão do aliciador.
É importante que as empresas e instituições sejam proativas na busca por soluções para evitar o aliciamento, incluindo a criação de políticas internas e parcerias com órgãos responsáveis pela Segurança Pública. A prevenção é sempre o melhor caminho para garantir a segurança e o bem-estar de todos.
(*) Thiago Sant Anna da Silva é gerente de Inteligência Corporativa da Aliant, empresa especializada em soluções para Governança, Compliance, Ética, Privacidade e ESG.
(*) Jefferson Kiyohara é diretor de Compliance & Sustentabilidade da Protiviti, empresa especializada em soluções para gestão de riscos, compliance, ESG, auditoria interna, investigação, proteção e privacidade de dados.
Fonte: IMAGE, em 07.06.2023