Aproveitando o momento de avaliação de nossos trabalhos e de muitos outros profissionais que como eu buscam a melhoria dos processos, das formas de executar as atividades, alinhar mudanças na gestão dos negócios e aprimorar as posturas das pessoas, o que me permite apresentar um pouco mais do que podemos fazer nas questões de mundo corporativo mais ético e com profissionais que pensem mais no coletivo do que no individual, afinal a vida não se restringe ao nosso umbigo ou a sua volta.
Quando em 2002 fui convidado a mudar a forma como empresa onde trabalhava com alterações em nossos procedimentos e normativos com base a regulações do Conselho Monetário Nacional, do Bacen e de nossa própria Matriz, não tinha noção de onde poderia chegar, afinal muito se falava de compliance, mas com foco somente em prevenção à lavagem de dinheiro, muito pouco para o que temos hoje.
Mas o tempo evoluiu a mim e a minha forma de implementar meus conhecimentos e dos colegas de universidade e das entidades de classe que através de seus comitês discutiam formas de implementar as mudanças regulatórias e ainda fazer com que colaboradores, gerentes e administradores seguissem as mudanças, se hoje está difícil ainda, imaginem há 15 anos atrás. Mas quanto maior o desafio, maior é a realização que temos em alcançar os objetivos.
Controles internos e compliance foram meus focos iniciais, fiz muitos amigos e perdi amigos, mas é parte da linha da vida profissional, e aprendi muito com os erros, mas acertei bastante, precisei lutar com o desprezo, com pessoas desacreditando nosso trabalho para continuar a fazer do jeito que já faziam, mesmo que fora do padrão, por que dava resultado, mesmo com riscos enormes. Porém quando algo saía errado o culpado era eu, por não ter visto uma coisa que ninguém se quer me informou que estava fazendo.
Amadureci muito na forma de abordar os problemas e possíveis soluções, aprendi a ouvir mais, avaliar mais, entender mais, criticar menos, resolver mais, pois quando mais entendemos o que fazemos, melhor será o resultado de nosso trabalho, pois em certos casos tentam convencer a gente a fazer o errado, mas oferecem tantos argumentos para justificar que está certo, que você se questiona se realmente não estamos sendo burocráticos demais ou intransigentes no processo.
Quando passei a lecionar sobre compliance, controles internos e riscos, aprendi que compliance é mais que seguir regras, escrever normas, avaliar as possíveis perdas, e quando passei a ser consultor, com a missão de convencer clientes que isto tudo pode agregar valor ao negócio, percebi o tamanho da responsabilidade que temos. Portanto, vejo muita gente migrando para oferecer consultoria e treinamentos de compliance com foco em corrupção e lavagem de dinheiro, afinal as últimas informações e evidências que temos são justamente sobre este assunto.
Como já escrevo há muito tempo e meus livros são testemunhas impressas de meus pensamentos, se ficarmos por muito tempo focando somente em itens de corrupção e lavagem de dinheiro, deixaremos de lado os negócios, onde as questões tributárias demandam necessidades absurdas de tratamento operacional, as questões de tecnologias mais avançadas do que podemos acompanhar, contabilidade e suas mudanças constantes com base na essência dos negócios, a segurança da informação e a computação na nuvem, como tratar isso sem investimentos adequados, legislação trabalhista e gestão de terceiros como manter isso sem ônus para as empresas, a necessidade do negócio ser sustentável e se manter entre uma crise e outra, inovação e conservadorismo, são questões que a empresa tem que assumir e os profissionais de compliance devem dar suporte, e não assumir as falhas de gestão e de tomadas de decisão.
Por esse motivo venho alertando que a implementação de um departamento, de uma diretoria de compliance, controles internos e riscos com avaliação periódica de uma auditoria interna, quando existe, não basta. Devemos deixar bem claro que os administradores devem implementar isso, mas aí entramos somo suporte para melhoria, mas a vontade de fazer a coisa certa deve partir deles e nós não podemos ser responsabilizados pela falta de conduta, ética e pela ganância excessiva de alguns empresários. Antes que alguém fale alguma coisa contra, existem muitos empresários honestos, mas por culpa de outros são jogados no mesmo buraco escuro da podridão, e nem quero falar de nossos governantes e “representantes do povo”.
Portanto, não importa o tamanho da empresa, todas necessitam estar em conformidade, ter suas informações e controles internos/contábeis dentro das regras e de fácil recuperação, avaliar riscos financeiros antes da ocorrência da perda, e parar de se lamentar por operações mal feitas, afinal muitas buscaram acordos de leniência para salvar a empresa, pois em certos casos de falha de conduta foram orientados pelos gestores na busca de atingir metas e obter bônus financeiros, mas quando dá errado ninguém assume.
Então cuidado para que estas questões de compliance não fiquem subjetivas e superficiais, não basta implementar um programa de integridade, devemos ter evidências que está sendo seguido, lembrar que devemos utilizar metodologias simples e de fácil absorção, evitar palavras e documentos com termos rebuscado, o simples já é difícil e sofisticar demais não comprova que sabemos, pelo contrário, afasta quem desconhece, e complica a mente de quem precisa se responsabilizar. Não somos responsáveis pelas transações comerciais e operacionais das empresas, somos suporte para que sejam feitas dentro das regras, e cada profissional na organização é responsável pela decisão que toma.
Pense nisso, você não daria o carro da empresa para uma pessoa sem habilitação, mas uma vez que ele possua a habilitação, que permita a condução do veículo, espera-se que ele cumpra as regras do trânsito e as regras internas da organização, mas como o mercado esta usando o compliance como responsável por tudo, se ele tomar uma multa, atropelar alguém ou dirigir embriagado e causar um acidente, quem responderá será o compliance officer? Exageros á parte devemos entender onde está a reponsabilidade de cada um nos processos, pois o compliance vai além do que imaginamos, esperamos e ansiamos.
* Marcos Assi é professor e consultor da MASSI Consultoria e Treinamento – Prêmio Anita Garibaldi 2014 e Prêmio Giuseppe Garibaldi 2016, Comendador Acadêmico com a Cruz do Mérito Acadêmico da Câmara Brasileira de Cultura, professor de MBA na FECAP, FIA, Saint Paul Escola de Negócios, Centro Paula Souza, UNIMAR, FADISMA, Trevisan entre outras, autor dos livros “Controles Internos e Cultura Organizacional”, “Gestão de Riscos com Controles Internos”, “Gestão de Compliance e seus desafios” e “Governança, riscos e compliance” pela Saint Paul Editora e “Compliance como implementar” pela Trevisan Editora.