Por Patricia Tressoldi
Até que ponto a corrupção afeta as práticas de integridade dentro das empresas brasileiras? O relatório Agenda Nacional de Integridade nos Negócios, que foi desenvolvido pela organização Transparência Internacional, aponta que a maioria das grandes companhias no Brasil só começaram a construir seus sistemas de compliance, como uma resposta às iniciativas de combate à corrupção colocadas em marcha nos últimos cinco anos. “Após atingirem uma maturidade inicial, agora devem dar o próximo passo. Algumas boas práticas se disseminaram rapidamente, mas a efetividade deve ser aprimorada”, completa o relatório.
O relatório também avaliou como as corporações gerenciam sua integridade, quais os mecanismos existentes de auditoria e certificação, qual o grau de transparência na divulgação de informações, como os stakeholders e o Conselho de Administração se envolvem no tema. Dos cinco indicadores considerados no relatório, em dois a avaliação ficou abaixo de 50 (nota dada quando os critérios foram parcialmente alcançados) e em dois, acima. No quinto, exatamente em 50.
(Fonte: Agenda Nacional de Integridade nos Negócios)
Dentro do grupo Positivo o sistema de compliance é levado a sério há muitos anos. “Os sócios sempre divulgaram e disseminaram o princípio ético como um dos seus principais valores. Por conta do crescimento da empresa, ao longo dos anos, nós tivemos que criar instrumentos para monitorar se realmente todo o colaborador cumpre todas as regras da empresa”, explica Selma Azevedo, gerente jurídica e de compliance do Grupo Positivo.
A Posigraf, gráfica e editora do Grupo Positivo, é uma indústria que atua há mais de 40 anos no mercado nacional e internacional, atualmente conta com 898 colaboradores, sua sede fica em Curitiba e tem um dos maiores parques gráficos da América Latina. Segundo Andrea Arantes, que é supervisora do sistema de gestão integrada da Posigraf, existe uma grande preocupação da indústria em fazer uma comunicação intensa com os colaboradores para que eles conheçam essas diretrizes e consigam aplicar as regras do compliance no dia-a-dia. “Nós temos vários documentos que definem as diretrizes do compliance. São eles: manual de conduta; canal aberto; política anticorrupção; políticas de integridade”, exemplificou Andrea.
Em uma das reuniões da Rede Paranaense de Compliance – projeto desenvolvido pela Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep) – o advogado Clóvis Bertolini Pinho, durante a palestra “Os impactos anticorrupção para a esfera de negócios”, afirmou que o sucesso de um sistema de compliance se explica por meio de uma palavra-chave que é confiança.
“Quando não há confiança, o risco de corrupção é iminente. Um bom programa de compliance não envolve lei, mas seguir as leis. Também não é uma forma de evitar que funcionários sejam presos, mas auxiliar as empresas a enxugar riscos”, declarou.
Esse pensamento bate com a prática que já existe dentro da Posigraf. Na percepção de Selma Azevedo, quando a cultura de boas práticas é disseminada pelos gestores, os exemplos chegam ao “chão de fábrica” e esses colaboradores passam a sentir admiração pela empresa que trabalham. “A indústria pode sim ajudar no combate à corrupção também fora de sua sede. Quando o colaborador entende o poder dos valores aplicados na empresa, ele acaba cultivando esses valores também na sua rotina fora da indústria”, complementa.
Fonte: Massa News Curitiba, em 10.09.2018.